Nidus

Liderança em tempos de transformação digital!

Acredito que seja quase um consenso que vivemos um tempo de transformação, as coisas estão mudando e mudando de uma forma muito rápida. A quantidade disponibilizada de informação facilita o conhecimento e proporciona uma série de visões diferentes sobre um mesmo tema. Como então conseguiremos manter uma organização funcionando e sendo produtiva?

O que se conhece nos campos das ciências, da política, da economia e da sociedade hoje, pode sofrer uma guinada radical da noite para o dia, dessa forma, projetos tornam-se obsoletos e o que era certo passa a não servir mais. Isso significa que o planejamento deve ser abandonado? Não é bem assim, o que é preciso é planejar diferente, pensar em curto prazo e não perder tempo com processos longos e morosos, afinal ninguém mais está disposto a esperar, ninguém tem tempo nem mesmo para ouvir uma mensagem em velocidade normal!

Um modelo de gestão adequado exige um processo de liderança forte, determinada e atenta a tudo o que acontece. Para isso, é preciso formar uma equipe de trabalhadores igualmente engajada, flexível e comprometida com a estratégia organizacional, que tenha ciência dos objetivos e que consiga parar e recomeçar sem grandes dificuldades. A tecnologia chegou para ficar e quem não admitir a sua relevância nos negócios está fadado ao fracasso.

É nesse cenário volátil que o espírito de liderança deve prevalecer, compreendendo o cenário e analisando com base no futuro e não no passado. A cultura organizacional, da mesma forma, precisa ser calcada no futuro, naquilo que está por vir e não ficar presa a velhas práticas que não levam a nada. É claro que as tradições são importantes, em especial para manter a identidade da organização e fortalecer valores e princípios, mas quando se refere aos “negócios”, a coisa tem que ser direcionada para frente, pensar no hoje e no amanhã, ser prospectivo e principalmente flexível.

O principal atributo de uma organização acaba sendo a sua cultura, que na visão proposta atualmente é a necessidade de espalhar o propósito da existência da organização, para o que ela serve e o que ela deve fazer. Incentivar a equipe, demonstrar o objetivo do negócio e estimular o interesse pelos resultados, para que todos abracem a causa como se fossem os donos desse negócio. Essa equipe, ciente da cultura organizacional, tende a demonstrar um maior comprometimento para com o trabalho e para com a organização. Isso se consegue alinhando os objetivos da liderança com os liderados e pode ser feito por meio do compartilhamento de informações de forma transparente e sincera, estabelecendo uma relação de compromisso em prol de uma melhor gestão.

A disrupção de negócios antigos e a imprevisibilidade dos mercados, facilitados pela tecnologia, colocam à prova os modelos tradicionais de planejamento, basta analisar o sucesso das organizações de modelo startup. Isso é claro não significa que temos que abandonar o planejamento e partir para a ação improvisada, é preciso, no entanto, repensar a forma de fazer esse planejamento, como as startups fazem. A idéia é atuar com base em projetos criativos, ou, até disruptivos, que ousem arriscar, criar o novo e substituir aquilo que não funciona ou que não serve mais.

A criatividade é essencial para fomentar mudanças reais em um ambiente de tantas incertezas, em que o mercado é extremamente volátil e que tudo pode mudar rapidamente, como bem propôs Eric Ries ao falar sobre a importância de compreender o que seria uma startup:

Uma startup é uma instituição, não um produto, assim, requer um novo tipo de gestão, especificamente constituída para seu contexto de extrema incerteza”.

A diferença entre o planejamento tradicional e o modelo de gestão ágil e eficaz é que o planejamento tradicional parte da premissa de durabilidade, de longo prazo e de processos rígidos, coisas que atualmente se tornam perigosas por conta da velocidade de transformação. Basta lembrar que basta uma notícia ou mesmo uma postagem na internet para deflagrar uma onda de transformação social em que valores de ontem passam a ser descartados e algo que era necessário perde sua relevância. A criatividade faz com que a organização deixe de ser reativa e passe a apresentar um papel definidor de tendências, um projeto bem elaborado pode até mesmo criar uma necessidade que até então não se tinha.

A única forma de sobreviver no mundo que se apresenta é reimaginando as coisas, conseguindo enxergá-las de maneira diferente e desenvolver as coisas de maneira rápida e eficaz, que funcione bem e que tragam alguma noção de bem estar. Em tempos de pandemia, de homeoffice e dellivery, percebe-se que as mudanças são muito rápidas, quase instantâneas e só quem estiver preparado é que vai sobreviver.

Uma nova relação entre liderança e liderados, baseada na autonomia e no compromisso mútuo é o fator diferencial de sobrevivência e sucesso no mundo da transformação. Permitir que todos ajam com autonomia e responsabilidade, liderar com olhos atentos ao mercado e reconhecer a importância da tecnologia são características indispensáveis para quem se aventura pelo caminho da liderança nesses tempos conturbados.

Mas o que fazer então? Como se sabe, não há uma receita pronta justamente por conta das características do momento atual, em que as incertezas reinam, contudo é possível estabelecer alguns aspectos gerais que podem ser adotados:

  • Fomentar um ambiente de criatividade e transparência na organização, a fim de que todos tenham consciência da importância da sua participação no desenvolvimento da organização;

  • Permitir que todos possam agir com o máximo possível de autonomia, que tenham espaço para expor suas idéias e que possam sugerir e até criticar o que acharem necessário;

  • Conhecer e acompanhar os clientes, aproveitar que a tecnologia está aí e verificar o nível de satisfação, afinal a concorrência está mais acirrada e mais próxima, e de um momento para o outro podemos perder espaço;

  • Abrir espaço para as diferenças, ouvindo pessoas que pensam diferente, que discordem e que tenham opinião própria, que sejam sinceras e estimular a ousadia;

  • Por fim, testar opções, não ter medo de errar e ser adaptável, ágil e flexível, de forma a reiniciar do zero se for preciso.

Mudar é uma obrigação, nada será como antes e quem mudar primeiro sai na frente. Não há espaço para o medo e para a rigidez, os tempos são de revolução e a primeira delas deve ser a nossa, mudar por dentro, admitir que o mundo mudou, que os valores estão mudando e que nosso papel na sociedade também é outro!

Jailson Aurelio Franzen